sábado, 14 de maio de 2011

PACIENTE JK

ENTREVISTA – INFORMAÇÕES COLHIDAS:

O paciente apresenta dificuldades de aprendizagem desde quando iniciou os estudos. Não gosta de ir á escola. Não faz as atividades completas. Apresentava dificuldade de comunicação. Já foi atendido por psicóloga e fonoaudióloga.

COMENTÁRIOS:

Durante o processo avaliativo foi desenvolvido a EOPCA – Entrevista Orientada e Participativa Centralizada na Aprendizagem, acompanhada de testes psicopedagógicos para avaliação da leitura e da escrita, provas operatórias (piagetianas), aplicação de técnicas projetivas (prova projetiva psicopedagógica),terapia psicopedagógica através da técnica “Caixa-de-areia”, desenho livre, pintura de mandalas, jogos psicodramáticos, testes de competência de leitura silenciosa, teste de compreensão de texto, teste de compreensão oral, de sondagem escrita, observando-se a capacidade de atenção e de concentração, a criatividade e outros aspectos importantes para o desenvolvimento cognitivo. Apresenta uma certa lentidão para desenvolver as atividades e quando não tem ninguém para atrapalhar consegue concentrar-se bem na realização das tarefas propostas. Na leitura não decodifica os textos, não consegue entender o que se ler. Há grande defasagem no processo da leitura. Sente muita dificuldade na leitura de palavras com sílabas complexas. Faz trocas das letras “f” e “v”, “p” e “b”, dentre outras. Falta de atenção durante a leitura. Quando produz um texto narrativo não segue uma ordem (começo, meio e fim). Não emprega as letras maiúsculas nos nomes próprios e inicio de frases na maioria das vezes.

DIAGNÓSTICO CLÍNICO:

1. Apresenta dificuldades de leitura e escrita;

2. Algumas ocasiões apresentou déficit de atenção;

3. Falta de motivação com relação à escola e também aos estudos, visto que não consegue captar todos os conteúdos propostos;

4. Troca freqüentes de letras

5. Falta domínio de leitura de palavras com sílabas complexas

PROCESSO DE TRATAMENTO:

O Diagnóstico Psicopedagogico Clínico foi realizado através de 09(nove) sessões psicopedagógicas que iniciou no dia 18/11/09 com a anamnese (entrevista com a mãe) e se estendendo até o dia 30/12/09, para uma melhor avaliação da estruturação das funções psicomotoras e psiconeurologicas, com duas sessões por semana. As atividades realizadas compreende-se em questões ligadas a atenção, concentração, organização, oralidade, leitura e escrita, compreensão, criatividade e aptidões. Trabalhando na maioria das vezes com a produção de texto.

CONCLUSÃO:

O paciente precisa de um espaço arejado, iluminado e silencioso para desenvolver suas tarefas escolares, pois qualquer movimento lhe tira a atenção. Deve ter um horário certo para os estudos diários e um espaço que contenha materiais escolares, tais como: livros, dicionários, cadernos, lápis, borracha e outros. Desenvolver uma rotina de estudo. Procurar estudar num horário diferente do momento de agitação da casa (não estudar, nem fazer tarefa no ambiente comercial). Precisa de espaço para desenvolver suas atividades sem intromissão de outros. Encontra-se em atraso no processo de leitura e escrita, havendo assim, a necessidade de acompanhamento de profissionais da educação: pedagogo e psicopedagogo, para que possa superar suas dificuldades de leitura e escrita. Deve-se praticar leitura através de diversos tipos de textos ( poesia, histórias, receitas, revistas, jornais, etc) todos os dias; fazendo cópias, ditados. Trabalhar a ortografia, pontuação e acentuação das palavras. Narrar fatos observando o começo, o meio e o fim. Criar um quadro com horário de estudos diários e segui-lo a risca. Acreditamos que seguindo essas orientações o paciente conseguirá ter um bom desenvolvimento na escola. Certamente, não gosta da escola porque não consegue acompanhar os conteúdos propostos no ano em que estuda.


ABUSOS SEXUAIS ENTRE PAIS E FILHOS





Os abusos sexuais entre pais e filhos são mais comuns do que imaginamos?

Sim, o que não temos é muita denúncia, pois é um assunto que gera vergonha e medo. Geralmente, quando a denúncia é feita, através dos órgãos competentes, a família desintegra-se, o que nem sempre é o melhor, no momento, para a criança. Sem dúvida é necessário proteger a criança dos abusos, mas precisamos conhecer o caso mais detidamente para que as medidas sejam mais apropriadas.



Então, qual é a medida mais adequada?

O melhor é que a família seja tratada, pois como afirmo no meu trabalho, esta é uma questão da dinâmica familiar a qual a criança se insere, não é só uma questão entre pai e filha. Nos casos em que tratamos em consultório particular, a situação modifica-se um pouco, já que o caso fica mais preservado, pois não há uma denúncia formal do abuso, ou por vezes, a paciente já é uma adulta e tem condições de se defender do abusador. Como vocês podem perceber, o assunto tem inúmeras implicações com relação a que atitudes éticas deverão ser tomadas frente à situação.



Você fala sobre uma "participação" velada da mãe no abuso sexual e na cumplicidade, explique um pouco como acontece.

Esta é uma questão muito delicada para se tratar, muito difícil de se aceitar, uma vez que a imagem de mãe vem sempre associada à proteção, cuidados e amor incondicional pelos filhos, pois trazemos em nossa bagagem cultural uma imagem materna idealizada. Quando por diversos fatores, as mães se omitem, "não percebem" a experiência, não acreditam no relato da criança, podemos supor uma cumplicidade geralmente inconsciente, ou não, com o pai. Isto porque a criança nos dá sinais de que algo errado anda ocorrendo com ela, como por exemplo, mudança repentina de comportamento, retraimento excessivo, agressividade exacerbada, manifestação exagerada da sexualidade, etc. A mãe geralmente é a pessoa mais próxima da criança e "deveria" estar atenta a sinais desse tipo, mas, muitas vezes, por processos inconscientes, determinados pela própria história de vida, negam as evidências. Isto não quer dizer que devemos crucificar a mãe, mas sim tentar compreender a dinâmica familiar como um todo, pois para que o abuso se efetive é necessário que exista também um pai com uma determinada dinâmica psíquica que o leve a ocupar o lugar de abusador. Muitas vezes, os pais também trazem em sua história, ocorrências de abuso sexual, portanto, devemos compreendê-los , o que não significa compactuar ou aceitar o abuso, mas sim tratá-los dentro dessa dinâmica tão complicada e delicada.



Não acreditar na denúncia da criança é uma forma de violência também?

Os pais são aqueles que devem proteger e amparar a criança em tais situações. Imaginem o desamparo da criança, ao se deparar com pais que ao invés de protegê-la de situações violentas e traumáticas, são os próprios causadores de tais experiências. Para que uma mãe não perceba o que ocorre entre pai e filha, ela precisa manter uma certa distância da criança, pois tal fato, gera alterações no comportamento. Para a mãe, dentre inúmeros fatores, fica complicado aceitar que sua filha passe por essa experiência pois envolve uma série de processos inconscientes, inclusive o de pensar na escolha que fez com relação a seu companheiro e a culpa por "ter exposto" a criança a tal situação; requer também repensar na sua relação com o companheiro.

Que prejuízos você tem observado nas pessoas que sofreram abusos sexuais?

Sem dúvida, experiências desse tipo provocam seqüelas no desenvolvimento da personalidade, porém, devemos levar em conta uma série de fatores para afirmarmos o tipo de conseqüência psíquica que provocam. Por exemplo: com que idade a criança sofreu o abuso, por quanto tempo, qual a atitude da mãe frente a isso, etc.

Aqueles que sofreram abusos na infância, serão adolescentes mais problemáticos, terão problemas na aprendizagem?

A adolescência por si só é um momento de crise, de retomada dos conflitos infantis. Situações conflitivas e traumáticas vividas pela criança, que não foram elaboradas ou superadas por ela, serão retomadas na adolescência e poderão tornar-se um período mais conflitante ainda. Porém, também poderemos nos deparar com um adolescente passivo, obediente e submisso, o que não é um bom sinal na adolescência.

Com relação à aprendizagem, também poderemos encontrar variações, não há uma sintomatologia específica que nos confirme a vivência de tal experiência, pois tanto a criança pode apresentar grandes dificuldades na aprendizagem, como pode canalizar toda a sua energia para ela. A confirmação de tais experiências pode ser feita através de técnicas projetivas, realizadas por um profissional qualificado.

Em sua experiência, que comprometimentos foram notados no cognitivo da criança abusada sexualmente?

Cito dois casos, em um deles, a paciente apresentava um desempenho intelectual acima da média, já no outro caso havia uma grande dificuldade em prosseguir seus estudos, a partir da experiência com o pai, pois apresentava grande dificuldade de concentração, era alguém que não podia "pensar" de uma maneira geral.



Como a sociedade contribui para os desvios de comportamento das famílias?

A sociedade é aquela que determina os padrões de comportamento e seus desvios. As regras e leis vão se modificando com o passar do tempo, porém a falta de limites e regras claras, dificultam a própria convivência social e acabam por deixar seus membros desorientados quanto a que padrões deve-se seguir ou mesmo, contestar. O núcleo familiar que não tem clara suas regras de comportamento acaba por confundir a criança e atrapalhar o bom desenvolvimento psíquico e social.

A criança, assim como os adolescentes, precisam de leis até para poder transgredi-las, desde que saiba que sua atitude é de contestação.

O nível sócio-econômico é determinante para os abusos sexuais entre pais e filhos?

Não, o que ocorre é que nas camadas sociais mais baixas, o caso vai parar nos órgãos públicos através de denúncias formais, nas camadas mais altas da população, os casos acabam em consultórios particulares onde o sigilo é garantido.

Qual o significado das musas sexuais dos nossos tempos?

Atualmente, encontramos um apelo muito grande com relação à sexualidade, os próprios pais incentivam as crianças a imitarem essas musas sexuais sem se darem conta da mensagem que passam aos filhos. Como muito bem nos coloca a psicopedagoga Maria Alice Leite Pinto, em seu artigo "Sexualismo precoce toma o lugar da aprendizagem" existe um "intenso apelo sexual dirigido ao público infantil, por interesses empresariais da tv, das indústrias de cosméticos, do vestuário, etc" . Ela ainda afirma que pais desinformados ou deformados acabam por se tornar coniventes com as aberrações, motivados por fatores narcísicos. Penso que, a mídia se utiliza desse apelo por atingir as camadas mais inconscientes do homem e por ser a sexualidade, a força propulsora da humanidade, mas acabam por muitas vezes, transmitirem a mensagem de uma sexualidade deturpada, sem limites claros.

Os limites estão confusos para as famílias atuais, que comportamentos desviados dos padrões "normais" notamos hoje em nossa sociedade?

A nossa sociedade encontra-se num momento de grandes transformações. Os pais não sabem muito bem o papel que ocupam na criação dos filhos, não querem repetir os erros de seus pais, mas também não sabem como ser diferentes; muitas vezes querem ocupar o lugar de amigos e acabam , sem se darem conta, deixando seus filhos desamparados, "órfãos". Sem dúvida é importante que os pais estabeleçam uma relação saudável com os filhos, que possam ouvi-los, compreendê-los, sem contudo saírem do lugar de pais. Não devemos confundir compreensão com liberalidade, nem autoridade com autoritarismo.



O que poderá ocorrer a uma criança que ainda não tem seus códigos éticos formados se não for ajudada?

Uma experiência dessa é sempre traumática, porém acredito que quanto mais precoce for a experiência, maior os efeitos danosos em sua formação. Uma experiência de abuso sexual, carrega consigo uma confusão nos papéis ocupados por cada elemento da família, uma falta de discriminação, de limites, e uma relação de poder e submissão - uma criança submetida a um adulto perverso, com falta ou dificuldade na relação com os limites. Portanto, teremos crianças com dificuldade de se relacionar com a própria sexualidade, com os limites impostos pela sociedade e na discriminação de si e do outro. Conseqüentemente, podemos pensar que esses são elementos importantes para a convivência social e para a aprendizagem de uma maneira geral.

Qual deverá ser o procedimento dos profissionais (professores, psicopedagogos, etc.) que lidam com esta criança ao tomarem conhecimento que está havendo abuso sexual? Existem instituições assistenciais? Que tipo de serviços oferecem?

Existem algumas instituições que amparam e orientam essas famílias, assim como aceitam denúncias. Porém, os profissionais precisam tomar muito cuidado e ter muita certeza dos fatos para chegar a uma denúncia formal. Muitas vezes, o mais indicado é que eles possam encaminhar a criança ou a família para outros profissionais qualificados para o tratamento. O encaminhamento para um tratamento psicológico é o mais indicado, pois como coloquei, esta não é só uma questão de desinformação ou maldade dos pais, mas sim , determinada por processos inconscientes e portanto, difícil de ser conduzida.



sexta-feira, 13 de maio de 2011

PACIENTE X

ENTREVISTA – INFORMAÇÕES COLHIDAS:

O adolescente apresenta problemas de aprendizagem, às vezes não consegue se comunicar com clareza, tendo muita dificuldade na leitura e na escrita, não está indo bem nos estudos, nem realiza as atividades escolares

COMENTÁRIOS:

Durante o processo avaliativo foi desenvolvido a EOPCA – Entrevista Orientada e Participativa Centralizada na Aprendizagem, acompanhada de testes psicopedagógicos para avaliação da leitura e da escrita, aplicação de técnicas projetivas (prova projetiva psicopedagógica),terapia psicopedagógica através da técnica “Caixa-de-areia”, jogos de palavras, desenho livre, pintura de mandalas, jogos psicodramáticos, testes de competência de leitura silenciosa, teste de compreensão de texto, teste de compreensão oral, de sondagem escrita, observando-se a capacidade de atenção e de concentração, a criatividade e outros aspectos importantes para o desenvolvimento cognitivo.

DIAGNÓSTICO CLÍNICO:

1. Apresenta dificuldades de leitura e escrita;

2. Algumas ocasiões apresentou déficit de atenção;

3. Falta de concentração na comunicação e nas orientações;

4. Falta de motivação com relação à escola e também aos estudos, visto que não consegue captar os conteúdos propostos;

5. Bloqueio com relação a disciplina de Matemática, levando-o a uma certa antipatia com o professor;

6. Falta de confiança e descaso com os estudos.



PROCESSO DE TRATAMENTO:

O Diagnóstico Psicopedagogico Clínico foi realizado através de13 (treze) sessões psicopedagógicas que iniciou no dia 26/08/09 e se estendendo até o dia 28/11/09, para uma melhor avaliação da estruturação das funções psicomotoras e psiconeurologicas, com duas sessões por semana no principio e depois apenas uma sessão semanal. As intervenções e atividades compreende-se em questões ligadas a atenção, concentração, organização, oralidade, leitura e escrita, compreensão, criatividade e aptidões. Trabalhando a produção de texto, a auto-correção e a auto-avaliação.


CONCLUSÃO:

O adolescente vem evoluindo muito bem ao tratamento, porém precisa de acompanhamento de especialistas na área psicopedagógica e aconselho levá-lo a um neurologista para uma avaliação nessa área. Suas atividades escolares relacionadas ao 9º ano, apresenta pouca significância visto que o mesmo não codifica e nem decodifica o que é proposto pela escola por não conseguir assimilar os conhecimentos propostos. Compreende o que se fala, mas nem sempre é compreendido e isso provoca desarranjos na sua comunicação e conseqüentemente na sua aprendizagem. Sugiro aos pais que procurem valorizar mais seus sonhos e projetos de vida, pois tem a necessidade de aceitação e compreensão dos mesmos. Evitem comparação porque ele é único e tem objetivos que o diferencia dos outros. O mesmo precisa ter um horário fixo para estudos, conforme foi feito durante o acompanhamento psicopedagógico e não fora cumprido pelo mesmo, pois falta compromisso com os estudos e certos limites, pois o mesmo precisa ter a consciência que para se conquistar os objetivos tem que fazer por onde merecer. Diante do que foi exposto, afirmo que o mesmo necessita de pedagogos e psicopedagogos que possam continuar trabalhando toda essa problemática.


VIOLÊNCIA NA ESCOLA


O que é violência na escola?

A violência é o conjunto de incivilidades freqüentes no cotidiano escolar, como agressões verbais e físicas, brincadeiras muito agressivas, humilhações, indisciplina exagerada e especialmente, ameaças. Com menor freqüência apareceu um tipo específico de agressão, que é quando uma turma de alunos se reúne e bate em um colega, em geral no horário da saída da escola.

Como a escola lida com estas questões?

Para professores, alunos e administração, o cotidiano se apresenta caótico. É a idéia de caos que permanece, a impressão de que ‘tudo pode acontecer’, de que se vive ‘em uma selva’. Assim, os agentes escolares procuram resolver os eventos de violência como é possível a cada momento, sem conseguir distinguir os diferentes fatores presentes em cada caso e, portanto, sem propor um projeto de desestruturação das causas, ou seja, a prevenção. No livro, procuro aprofundar a discussão sobre as medidas tomadas na escola e a impressão de alunos e professores de que ‘nada se faz’.

Quais as principais causas para a existência da violência na escola?

Há uma configuração de fatores, e não podemos deixar de dizer que é um fenômeno social característico das relações contemporâneas. Do ponto de vista psicopedagógico, existem causas no funcionamento do estabelecimento, nas relações pedagógicas e nos modelos de resolução de conflitos. A escola precisa propor espaços e alternativas para a resolução dos conflitos intrapessoais, interpessoais e com a instituição. É também uma questão de aprendizagem, de conhecer formas saudáveis de lidar com as contradições.

Como desenvolver uma cultura para a paz e o respeito?

Em primeiro lugar é imprescindível estarmos atentos aos sinais, atentos ao que está ocorrendo. Não é preciso esperar que um aluno apareça armado para percebermos que há necessidade de intervir. A escola não pode deixar passar o clima de agressões freqüentes apenas como se fosse ‘o jeito dos alunos’. Em linha gerais, eu diria que tudo começa com o respeito ao professor como profissional (refiro-me a salário, condições de trabalho, hora atividade, etc...). Em seguida, uma escola bem cuidada. A valorização do diálogo, o envolvimento dos educadores, e a aprendizagem como trabalho principal da escola, em suma, dar visibilidade para os esforços concretos de promover a aprendizagem.

A facilidade com que as drogas chegam às escolas é um fator relevante para o que vem ocorrendo?

O quadro que se apresenta quando falamos de violência no meio escolar é complexo. Não acredito que pensar em drogas ilegais como causa principal seja o melhor caminho. Entre os usuários, nem todos são necessariamente descontrolados e violentos. Mas é inegável que a hierarquia de poder, os valores mercantilistas e a violência (inclusive armas) que estão associados ao tráfico compõe uma situação assustadora. Neste sentido, as drogas podem ser um fator de agravamento da situação de violência, de sentimento de caos nas escolas. Sua ausência não garante, no entanto, a existência de respeito e diálogo. As drogas não eram centrais na discussão sobre a violência. Os valores de certa parte dos jovens entrevistados é que apontavam um possível crescimento da presença das drogas para o futuro, através de uma identidade relacionada ao sentido da vida, às representações. Este é o problema maior: quando para a juventude, o trabalhador é o ‘trouxa’ e o herói é o bandido, é ele que tem o espaço na mídia, a atenção. Nesta perspectiva sai valorizada a droga, o individualismo, a competição, o consumo, o dinheiro.

Existe um estudo onde escolas bem cuidadas fisicamente, diminuem o índice de vandalismo e violência. Isso é verdadeiro?

Os estudos parecem apontar para o fato de que quando a comunidade está presente na escola tomando decisões, gerindo e participando, os índices de violência, vandalismo e insegurança são menores. É bem provável que as duas variáveis, ou seja, escolas bem cuidadas e participação da comunidade sejam concomitantes.

Nestes últimos anos, temos assistido cenas de terror em escolas nos Estados Unidos e Europa. Em sua opinião, o que leva a esta violência em países de primeiro mundo, onde supõe-se, melhores condições de educação?

Acredito que estes fatos assombrosos devem nos fazer questionar muito mais do que a educação formal, devem nos levar a pensar no mundo que nós estamos construindo. O Prof. Milton Santos, com seu brilhantismo, mostrava o ‘simples’: o homem deixou de ser o valor principal e em seu lugar está o consumo, o dinheiro. Estes valores servem tanto para nossa sociedade quanto para o primeiro mundo.

A naturalização da presença de armas de fogo, o fácil acesso a elas, e a valorização de seu uso na mídia e na vida, são fatores que também nos chamam a atenção, trazem consigo a mensagem do outro como inimigo.

De certo modo, os eventos citados mostram que as condições materiais são importantes, mas as condições humanas – valores, crenças, cultura, visão de homem e sociedade, interações, aceitação e pertença – nos fazem humanos, dão sentido e norteiam nossas ações. A educação, como a vida em sociedade em geral, deve desfrutar do conforto material e de uma administração eficiente, mas são os propósitos que lhe dão sentido e importância. Ainda assim, mesmo numa situação idealizada, a condição humana tem desafios acima de nossa compreensão. E, creio, temos que conviver com isto, com a nossa impotência também.

Talvez a única coisa que podemos ter certeza ao nos depararmos com fatos de violência tão disparatados, é de que há no mundo muita gente em sofrimento, estes agressores estão certamente em sofrimento. E que este sofrimento nem sempre está associado a necessidades de consumo ou necessidades materiais. Acredito que, por seu radicalismo, cenas de terror em escolas de países de primeiro mundo nos forçam a resgatar a importância do olhar sobre o ser humano.