segunda-feira, 25 de julho de 2011

VIOLÊNCIA X CIDADANIA


A CIDADANIA É O CAMINHO PARA A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

A cidadania não se limita a uma palavra, uma idéia, um discurso, nem está fora da vida da pessoa. Ela começa na relação do homem consigo mesmo para, a partir daí, expandir-se até o outro, ampliando-se para o contexto social no qual esse homem está inserido. É uma nova forma de ver, ordenar e construir o mundo, tendo como princípios básicos os direitos humanos, a responsabilidade pessoal e o compromisso social na realização do destino coletivo.
A experiência nos mostra que é necessário um trabalho de reconhecimento e valorização dos direitos e deveres do cidadão, para que eles sejam respeitados e cumpridos, já que o seu exercício não ocorre de forma automática.
As escolas precisam ter como propósito projetos para oportunizar e estimular a reflexão e o debate sobre a questão dos direitos humanos, permitindo a construção de uma nova ética e um novo tipo de convivência social. Com este objetivo deverão ser trabalhados instrumentos que embasam o exercício da cidadania, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e Estatuto da Criança e do Adolescente.
Dentre os diferentes temas que podemos citar, destaca-se a violência, que aparece não apenas sob forma de agressão física, mas, também, como privação de direitos, desqualificação social, transformação do indivíduo em objeto, ignorância, miséria e desemprego.
A violência não nasce dentro da escola. A sociedade está violenta, resultado da falta de políticas sociais e do descaso com a educação e com as crianças  e adolescentes. Daí, o reflexo imediato é na qualidade da educação. Professores e alunos ficam desmotivados, pois o ambiente escolar deixou de ser convidativo e causa até mal estar.
O contexto econômico é um dos fatores responsável por atritos. Os alunos que estudam em escolas públicas têm consciência da falta de qualidade e das chances reduzidas de passar no vestibular e ingressar no ensino superior.
A violência pode ter causas mais profundas: está ligada à desagregação familiar, à omissão dos pais e até mesmo à falta de perspectivas.
No Brasil das desigualdades, alguns largam na frente, beneficiados pelas boas condições sociais proporcionadas pelos pais, e muitos entretanto, dão a partida em clara desvantagem, carregando ônus de ingredientes como desagregação familiar, desemprego dos pais, subnutrição, falta de acesso aos produtos culturais, desinformação, exposição à violência, baixo auto-estima.
Criar condições de superação dessas faltas e estimular adequadamente crianças e adolescentes carentes é uma missão para a qual o Estado tem se mostrado incapaz – ou negligente. A sociedade – principalmente por meio de organizações não-governamentais – aprendeu a tomar para si iniciativas que têm atenuado as distorções que transformam em abismo a distância entre ricos e pobres deste País.
Embora não sejam solução e revelem com crueza o quanto o governo deve à população que lhe caberia assistir, essas ações cívicas de resistência e avanço nos permitem afirmar que os brasileiros são melhores que sua elite – e um dia vão presenciar uma nação justa, em que a infância e o direito à educação não sejam uma corrida de obstáculos.
Não podemos, jamais, esquecer que a cidadania, no trabalho com o grupo, se constrói pelo reconhecimento e respeito às diferenças individuais, pelo combate aos preconceitos, às discriminações (econômica, política, sexual, cultural etc.) e aos privilégios, pela participação no processo grupal, pela ampliação da consciência em relação aos direitos e deveres e pela confiança no potencial de transformação de cada um.
A cidadania não é um discurso, precisa ser vivenciada para ser incorporada pelo grupo, incluindo todos nesse processo de transformação social. A cidadania é construída  no exercício das pequenas coisas do cotidiano, abrangendo não apenas os direitos,mas, também, os deveres, gerando compromisso, responsabilidade e participação.
É importante estimular o protagonismo juvenil como exercício da cidadania, envolvendo o adolescente na discussão e resolução de problemas concretos do seu cotidiano, assim como nas questões de interesse coletivo, incentivando sua participação em associações (ecológicas, culturais, estudantis etc.) e em movimentos sociais mais amplos.
Sem esse espaço de descoberta e experimentação social, a transição do adolescente para o mundo adulto se faz sem práticas e vivências fundamentais para o desenvolvimento da sua consciência ética e do seu compromisso cidadão.
Ser cidadão significa estar na vida e no mundo, sentindo-se parte integrante do gênero humano, peça singular do quebra-cabeça da história, participante ativo do esforço de mudança da sua realidade social, deixando por onde passa sua marca. É mais que sobreviver, é mais que viver com prazer, é gozar da existência.