sexta-feira, 13 de maio de 2011

VIOLÊNCIA NA ESCOLA


O que é violência na escola?

A violência é o conjunto de incivilidades freqüentes no cotidiano escolar, como agressões verbais e físicas, brincadeiras muito agressivas, humilhações, indisciplina exagerada e especialmente, ameaças. Com menor freqüência apareceu um tipo específico de agressão, que é quando uma turma de alunos se reúne e bate em um colega, em geral no horário da saída da escola.

Como a escola lida com estas questões?

Para professores, alunos e administração, o cotidiano se apresenta caótico. É a idéia de caos que permanece, a impressão de que ‘tudo pode acontecer’, de que se vive ‘em uma selva’. Assim, os agentes escolares procuram resolver os eventos de violência como é possível a cada momento, sem conseguir distinguir os diferentes fatores presentes em cada caso e, portanto, sem propor um projeto de desestruturação das causas, ou seja, a prevenção. No livro, procuro aprofundar a discussão sobre as medidas tomadas na escola e a impressão de alunos e professores de que ‘nada se faz’.

Quais as principais causas para a existência da violência na escola?

Há uma configuração de fatores, e não podemos deixar de dizer que é um fenômeno social característico das relações contemporâneas. Do ponto de vista psicopedagógico, existem causas no funcionamento do estabelecimento, nas relações pedagógicas e nos modelos de resolução de conflitos. A escola precisa propor espaços e alternativas para a resolução dos conflitos intrapessoais, interpessoais e com a instituição. É também uma questão de aprendizagem, de conhecer formas saudáveis de lidar com as contradições.

Como desenvolver uma cultura para a paz e o respeito?

Em primeiro lugar é imprescindível estarmos atentos aos sinais, atentos ao que está ocorrendo. Não é preciso esperar que um aluno apareça armado para percebermos que há necessidade de intervir. A escola não pode deixar passar o clima de agressões freqüentes apenas como se fosse ‘o jeito dos alunos’. Em linha gerais, eu diria que tudo começa com o respeito ao professor como profissional (refiro-me a salário, condições de trabalho, hora atividade, etc...). Em seguida, uma escola bem cuidada. A valorização do diálogo, o envolvimento dos educadores, e a aprendizagem como trabalho principal da escola, em suma, dar visibilidade para os esforços concretos de promover a aprendizagem.

A facilidade com que as drogas chegam às escolas é um fator relevante para o que vem ocorrendo?

O quadro que se apresenta quando falamos de violência no meio escolar é complexo. Não acredito que pensar em drogas ilegais como causa principal seja o melhor caminho. Entre os usuários, nem todos são necessariamente descontrolados e violentos. Mas é inegável que a hierarquia de poder, os valores mercantilistas e a violência (inclusive armas) que estão associados ao tráfico compõe uma situação assustadora. Neste sentido, as drogas podem ser um fator de agravamento da situação de violência, de sentimento de caos nas escolas. Sua ausência não garante, no entanto, a existência de respeito e diálogo. As drogas não eram centrais na discussão sobre a violência. Os valores de certa parte dos jovens entrevistados é que apontavam um possível crescimento da presença das drogas para o futuro, através de uma identidade relacionada ao sentido da vida, às representações. Este é o problema maior: quando para a juventude, o trabalhador é o ‘trouxa’ e o herói é o bandido, é ele que tem o espaço na mídia, a atenção. Nesta perspectiva sai valorizada a droga, o individualismo, a competição, o consumo, o dinheiro.

Existe um estudo onde escolas bem cuidadas fisicamente, diminuem o índice de vandalismo e violência. Isso é verdadeiro?

Os estudos parecem apontar para o fato de que quando a comunidade está presente na escola tomando decisões, gerindo e participando, os índices de violência, vandalismo e insegurança são menores. É bem provável que as duas variáveis, ou seja, escolas bem cuidadas e participação da comunidade sejam concomitantes.

Nestes últimos anos, temos assistido cenas de terror em escolas nos Estados Unidos e Europa. Em sua opinião, o que leva a esta violência em países de primeiro mundo, onde supõe-se, melhores condições de educação?

Acredito que estes fatos assombrosos devem nos fazer questionar muito mais do que a educação formal, devem nos levar a pensar no mundo que nós estamos construindo. O Prof. Milton Santos, com seu brilhantismo, mostrava o ‘simples’: o homem deixou de ser o valor principal e em seu lugar está o consumo, o dinheiro. Estes valores servem tanto para nossa sociedade quanto para o primeiro mundo.

A naturalização da presença de armas de fogo, o fácil acesso a elas, e a valorização de seu uso na mídia e na vida, são fatores que também nos chamam a atenção, trazem consigo a mensagem do outro como inimigo.

De certo modo, os eventos citados mostram que as condições materiais são importantes, mas as condições humanas – valores, crenças, cultura, visão de homem e sociedade, interações, aceitação e pertença – nos fazem humanos, dão sentido e norteiam nossas ações. A educação, como a vida em sociedade em geral, deve desfrutar do conforto material e de uma administração eficiente, mas são os propósitos que lhe dão sentido e importância. Ainda assim, mesmo numa situação idealizada, a condição humana tem desafios acima de nossa compreensão. E, creio, temos que conviver com isto, com a nossa impotência também.

Talvez a única coisa que podemos ter certeza ao nos depararmos com fatos de violência tão disparatados, é de que há no mundo muita gente em sofrimento, estes agressores estão certamente em sofrimento. E que este sofrimento nem sempre está associado a necessidades de consumo ou necessidades materiais. Acredito que, por seu radicalismo, cenas de terror em escolas de países de primeiro mundo nos forçam a resgatar a importância do olhar sobre o ser humano.







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